quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Efeito Lúcifer - que leva pessoas boas a cometerem maldades

Por Rodolfo Araújo

No texto anterior conhecemos o famoso Estudo da Prisão de Stanford, onde Phil Zimbardo verificou in loco como pessoas boas são capazes de cometer atos cruéis - fenômeno batizado por ele de Efeito Lúcifer. Quais seriam, assim, os fatores capazes de operar esta perniciosa transformação?

Antes de tudo, Zimbardo entende que a maldade é uma questão de poder. É o exercício de poder paraintencionalmente inflingir a alguém o mal psicológico ou físico. Ele identifica, então, os sete processos sociais capazes de tornar uma pessoa mais suscetível a cometer algum tipo de maldade:

1. Dar o primeiro pequeno passo sem pensar:normalmente algo quase insignificante, mas que abre as portas para abusos cada vez maiores e que, quando aumentado pouco a pouco, não se percebe o resultado final. Como um choque de 15 volts.

2. Desumanização do outro: é mais fácil fazer mal a alguém quando não se vê ou não se sabe quem é essa vítima. Os prisioneiros de Stanford não se chamavam John ou Peter, mas 416 e 325.

Guerreiros anônimos
Guerreiros anônimos
3. Desumanização própria: quando se está anônimo numa multidão, sua maldade é diluída entre os demais. O antropólogo R. J. Watson estudou 23 culturas em seus processos de ir à guerra. Dos oito povos que íam para a batalha sem pinturas ou ornamentos específicos, apenas uma tinha alto grau de violência, isto é: torturavam, mutilavam e/ou matavam seus inimigos. Mas dos outros quinze que mudavam a aparência (ou se escondiam atrás de óculos escuros espelhados e uniformes padronizados), tornando-se anônimos, doze matavam e mutilavam. Ou seja, das que matavam e mutilavam, 12 entre 13 mudavam a aparência. Mais de 90%.

4. Difusão da responsabilidade pessoal:quando um criminoso é linchado, a culpa é da multidão e não dos socos e pontapés individuais. Mais do que a covardia do grupo, representa a diluição da culpa.

5. Obediência cega à autoridade: como demonstrado por Milgram, a autoridade também funciona como pára-raios para atribuição de culpa de quem apenas executa ordens.

6. Adesão passiva às normas do grupo: odiar a torcida adversária faz parte do ritual de vestir o uniforme do seu time - mesmo que o seu irmão esteja do outro lado da arquibancada. Mesmo que você odeie uma pessoa que nunca viu apenas por causa das cores que ostenta.

7. Tolerância passiva à maldade através da inatividade ou indiferença: muitas vezes o indivíduo não é o responsável direto pela maldade mas permite, inabalável, que ela seja praticada, conforme descrito no texto sobre Latané e Darley.

Quando essa cadeia de eventos ocorre numa situação que não lhe é familiar, ou seja, onde seus habituais padrões de resposta não funcionam, você está pronto para perpetrar o mal - e nem se dará conta disso. Sua personalidade e princípios morais já estarão desligados.

O autor explica que a chave para tal comportamento está na situação em que a pessoa se encontra e na enorme influência que ela tem sobre os indivíduos. O sistema formado pelo conjunto de bases acadêmica, cultural, social e política do indivíduo cria as situações que haverão de corrompê-lo.

No Experimento de Stanford, os papéis de guardas e prisioneiros faziam parte do repertório dos voluntários. Assim que os sorteios foram realizados, cada um encaixou-se ao seu papel automaticamente, de acordo com os estereótipos pré-concebidos.

Para mudar uma pessoa, prossegue, você tem que mudar a situação. E se quer mudar a situação, precisa entender em que parte do sistema está o poder. É necessário identificar e remover do ambiente o elemento dessa equação determinante para que o voluntário assuma o seu papel de guarda sádico e mantenha-se ali.

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Abu Ghraib por Botero
Abu Ghraib na visão de Fernando Botero
Zimbardo esperava, ainda, que seus trinta anos dedicados ao tema pudessem ter esclarecido alguns tópicos no sentido de evitar que problemas semelhantes ocorressem novamente. Algo que o Pentágono parece não ter aprendido, haja visto os horrores praticados pelos soldados americanos em Abu Ghraib, cujo ambiente em muito se assemelhava aos porões de Stanford três décadas antes.

A leitora pode ter certeza de que os sete passos descritos acima estavam espalhados em cada cela da prisão iraquiana. Além disso, os militares ali presentes eram oficiais da reserva, ou seja, não estavam preparados para as tarefas designadas.

O pesquisador participou do julgamento de alguns soldados acusados de maus tratos em Abu Ghraib. Como parte da defesa, testemunhou em favor do sargento Ivan "Chip" Frederick na Corte Marcial. Argumentou que sua sentença deveria ser atenuada devido às circunstâncias do ambiente, onde as pessoas não conseguem resistir às pressões. Ainda assim, Chip perdeu suas nove medalhas, a pensão por 22 anos de serviço e foi condenado à cumprir a pena (máxima) de oito anos de prisão.

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Ambos os casos - Stanford e Abu Ghraib - representaram, na opinião de Zimbardo, demonstrações clássicas do poder de situações sociais distorcendo identidades pessoais, valores e princípios morais longamente celebrados, no momento em que alunos e soldados internalizavam o brutal papel de um guarda sádico.

Enquanto o Pentágono insistia na tese de que algumas maçãs podres haviam estragado todo o cesto, Zimbardo tinha certeza de que era o cesto que era ruim - não necessariamente as maçãs. Para ele, as pessoas não podem ser consideradas inteiramente boas antes de terem sido postas à prova numa situação extrema.

O experimento é utilizado hoje em dia para mostrar que a situação talvez tenha mais influência no comportamento das pessoas (Situational Attribution ou Atribuição Situacional; isto é: a causa está no outro) do que suas personalidades individuais (Dispositional Attribution ou Atribuição de Disposição; isto é: a causa está na própria pessoa). Noutras palavras, atrela o comportamento a fatores externos, antes dos internos. São conclusões compatíveis com os estudos de Milgram, ainda que a origem da influência divirja.

Em 2007 Zimbardo reuniu boa parte do material já publicado a respeito do Experimento de Stanford, além daquilo que vivenciou nos julgamentos de Abu Ghraib no livro The Lucifer Effect: Understanding How Good People Turn Evil.

Em 2010 o Experimento de Stanford vai virar filme, estrelado por Giovanni Ribisi.

O EFEITO LÚCIFER E A ADMINISTRAÇÃO

Com o termo Efeito Lúcifer Zimbardo demonstrou que pessoas comuns podem ser capazes de atos cruéis mas que, nem sempre, isso reflete sua índole ou caráter. Antes disso, fatores ambientais podem exercer uma influência muito maior nas atitudes das pessoas do que seu próprio comportamento individual*.

Levando as idéias de Zimbardo para o ambiente corporativo, podemos encontrar nos sete processos sociais que tornam uma pessoa mais suscetível a cometer alguma maldade algumas explicações para determinadas perversidades que ocorrem nos locais de trabalho. Isto é especialmente verdade ao observarmos pessoas que deturpam o conceito de autoridade, quando em alguma posição de poder.

Até mesmo os casos de bullying no escritório têm a ver com um ambiente de trabalho pouco saudável, onde uns colegas são jogados contra os outros. Na maioria das vezesas pessoas envolvidas são indivíduos cortêses e educados - embora você relute em acreditar nisso - e, frequentemente, pais e cônjuges amorosos e cordiais, mas que se transformam de segunda a sexta.

Então, por que isso seria tão diferente num ambiente profissional? O que acontece ali que faz com que as pessoas deixem que seu lado Monstro tome o lugar do Médico? Frequentemente há algum fator estressor no local. Algo que aflore o que há de pior nas pessoas, em vez de o que há de melhor.

Muito provavelmente, então, a resposta para melhorar as pessoas está no ambiente em que elas vivem. E mudar as pessoas fará pouca diferença no resultado final. O resultado mais previsível é que as novas pessoas adotem o comportamento das anteriores por influência do meio. O que você precisa, então, é identificar - e eliminar - as falhas deste ambiente. Entender o que o torna tão opressor e negativo.

O QUE VEM POR AÍ

Mas será que a palavra final de Zimbardo é que todos nós, independente de nosso caráter ou inclinação, estamos fadados a cometer maldades várias vezes durante a vida, em virtude de uma combinação de eventos? Na verdade não. Zimbardo acredita que somente entendendo a maldade e suas mais profundas causas e manifestações é que poderemos conhecer seu antídoto. A seguir, Você não precisa de superpoderes para ser um herói.
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* Há muita controvérsia sobre este tema, com escolas da Psicologia que defendem uma ou outra posição. Mas o mais correto talvez seja admitir que ambos os fatores - ambientais e comportamentais - influenciam nossas atitudes, prevalecendo ora uma, ora outra.

Por que pessoas boas fazem coisas ruins?


Por Rodolfo Araújo

Frequentemente gostamos de traçar uma linha imaginária entre nós, pessoas boas, e eles, pessoas más. Até que ponto, porém, esse limite é rígido e real, ou permeável e fictício? Para Phil Zimbardo a resposta é obscura e duvidosa - e o ambiente exerce uma perigosa influência.

Asch mostrou que, sentindo-se pressionada por um grupo que sempre errava as respostas, uma pessoa pode ser induzida a também se enganar. Milgram sugeriu que, num determinado contexto, pessoas comuns seriam capazes de eletrocultar seus pares - ao menos de mentirinha. Já Latané e Darleyperceberam que grupos de pessoas tendem a imobilizar as ações individuais, transformando testemunhas em espectadores passivos, quando algum tipo de intervenção seria a atitude correta.

Para Phil Zimbardo esses três casos são fortes indícios de que, dependendo do tipo de situação em que nos encontremos, colocamos de lado nossas convicções pessoais, nossos valores morais e somos capazes de atos jamais imaginados.

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Ainda jovem leu O Médico e o Monstro (Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde), onde o escocês Robert Louis Stevenson narra a estória de Dr Jekyll e Mr Hyde, duas personalidades antagônicas habitando o mesmo indivíduo. Por ter crescido no South Bronx, o sinistro roteiro não lhe era tão estranho, pois seu violento bairro era povoado por figuras semelhantes. Sua curiosidade voltou-se, no entanto, para a misteriosa poção que transformava o pacato Dr Jekyll no abominável Mr Hyde. Que maléfica fórmula seria capaz de semelhante metamorfose?

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A partir do seu interesse em entender como pessoas boas são induzidas ou seduzidas a tomar atitudes violentas, bem como suas justificativas psicológicas, Zimbardo decidiu estudar a forma como a persuasão altera o comportamento das pessoas. Para ele, a linha que todos nós gostamos de traçar entre nós, pessoas boas, e eles, pessoas más, não era assim tão rígida e impermeável como gostamos de pensar. À estranha e onipresente força que eventualmente nos faz cruzar essa tênue fronteira, ele chamou de Efeito Lúcifer.

O termo tem origem na passagem bíblica que conta como Lúcifer (que significa "A luz") foi expulso dos céus, no momento em que se rebelou contra seu próprio Criador. Até então, Lúcifer era considerado um dos Querubins favoritos de Deus, tendo grande destaque entre Seus demais auxiliares.

Lucifer
Lúcifer, o Anjo caído
Tanta deferência trouxe-lhe a soberba e, tendo enchido-se de orgulho, Lúcifer recusou-se a servir ao homem, a criação divina favorita. Coube ao Arcanjo Miguel, então, a tarefa de expulsar o rebelde do céu, juntamente com seus seguidores. Vencidos pelas hostes de Deus, Lúcifer e sua legião de anjos rebelados desceram ao Inferno, de onde travam a eterna batalha de tentar corromper a protegida criatura: o homem.

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Pois em 1971 Zimbardo estava pronto para ver sua teoria sobre a maldade na prática: em 14 de agosto teve início um dos mais controversos Experimentos em Psicologia feitos até hoje: o Estudo da Prisão de Stanford.

Com um anúncio no jornal, Zimbardo e sua equipe amealharam 75 candidatos para uma pesquisa onde seriam estudadas as condições dentro de uma prisão. Através de testes físicos e avaliações psicológicas, eles escolheram os 24 voluntários, dentre os mais saudáveis do grupo, que receberiam US$ 15,00 por dia de participação.

Um cara-ou-coroa dividiu o grupo entre guardas e prisioneiros, colocando-os dentro ou fora das grades de uma cadeia cenográfica montada no subsolo da própria universidade. Depois do sorteio, os voluntários eram instruídos a aguardar em casa o início do experimento.

Sem qualquer outro aviso, os prisioneiros eram buscados em suas casas pela própria polícia de Palo Alto, na Califórnia. Sob a "acusação" de assalto à mão armada, eles eram levados à delegacia algemados em carros-patrulha para serem fichados, tirar as impressões digitais e as fotos características.

Já na cadeia, os prisioneiros eram chamados apenas por números bordados em suas roupas - iniciando seu processo de despersonalização, a que retornaremos mais tarde. Todos usavam uniformes apertados, gorros de lã e eram obrigados a carregar bolas infláveis a maior parte do tempo, para que se sentissem desconfortáveis. Uma corrente atada a um dos tornozelos lembrava-os, constantemente, sua condição de prisioneiro.

Aos guardas foram fornecidos bastões de madeira, roupas características e óculos escuros espelhados, para que evitassem contato visual direto com os prisioneiros.

Guard-250Nas instruções que lhes deu um dia antes do experimento, Zimbardo alertou-os que não poderiam machucar os presos.

Disse-lhes: "Vocês podem criar nos prisioneiros a sensação de tédio, algum grau de medo e o sentimento arbitrário de que suas vidas são controladas por nós, pelo sistema e que eles não têm qualquer privacidade. Vamos tirar suas individualidades em vários níveis. Geralmente isso tudo leva a sensação de impotência, ou seja, nessa situação nós teremos todo o poder, enquanto eles não terão nenhum".

Um dos guardas foi designado Diretor da Prisão, enquanto que o próprio Zimbardo era o Superintendente. Mesmo sob sua supervisão, o experimento fugiu ao controle rapidamente. Ali ele pôde compreender o que acontecia a pessoas boas quando colocadas numa situação ruim.

Numa irracional escalada de brutalidade, os guardas tornaram-se sádicos algozes daqueles que, dias antes, eram seus colegas de universidade. Eles forçavam os detentos a exercícios repetidos, sem motivo aparente. Proibiam os prisioneiros de sair das celas para suas necessidades fisiológicas e os impediam de esvaziar suas latrinas, causando rápida deterioração nas condições sanitárias do presídio.

Em 36 horas o primeiro preso teve um colapso nervoso, chorando, gritando e com o raciocínio totalmente perturbado, precisando ser removido imediatamente.

Os guardas tornaram-se cada vez mais cruéis com o desenrolar do experimento. Às vezes retiravam os colchões das celas como forma de punição, forçando os presos a dormir diretamente no concreto. Outros eram obrigados, ainda, a andar nus pela prisão.

Certa vez, o prisioneiro 416 recusou a alimentação oferecida e foi trancado num armário apertado carinhosamente batizado de solitária. Para enervar os presos e criar conflitos internos, os guardas disseram que só soltariam o colega isolado se os demais entregassem seus lençóis. Todos se recusaram.

Tão estranha quanto a crueldade cultivada pelos guardas era a passividade demonstrada pelos prisioneiros. Zimbardo explicou que eles internalizaram seus papéis a tal ponto, que sofriam passivamente o tratamento sádico, covarde e humilhante que lhes era imposto. Quando algum deles pedia para sair, era submetido ao "comitê de liberdade condicional", onde seu caso era "julgado".

Stanford2Invariavelmente o pedido de condicional era negado (caso fosse aceito, ele sairia sem receber o pagamento por sua participação) e, por incrível que pareça, o prisioneiro aceitava candidamente a decisão e voltava à prisão. Ele parecia esquecer-se de queestava ali por sua própria vontade e, assim sendo, poderia ir embora no momento que bem entendesse, independente da decisão de qualquer comitê fajuto.

Imerso no seu papel, Zimbardo parecia não se dar conta do que acontecia com seu experimento. Mais de cinqüenta pessoas já haviam visitado as instalações da "prisão", até que uma delas - e apenas uma delas! - chamou sua atenção para o tipo de atrocidades que se cometia ali. Disse, ainda, que o próprio Zimbardo, mesmo parecendo alheio, era responsável pelo que acontecia com aqueles rapazes.

Como que despertado de seu torpor, Zimbardo encerrou o experimento na manhã seguinte. Era ainda o sexto dia, de um total previsto de quatorze.

A maioria dos guardas mostrou-se desapontada com o prematuro encerramento das atividades. Muitos dos prisioneiros estavam psicologicamente abalados. Cinco tiveram colapsos nervosos.

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Para Zimbardo, o experimento do Presídio de Stanford marcou o início de uma extensa carreira de pesquisas procurando entender as origens do mal - especialmente quando praticado por pessoas comuns. Algumas de suas mais interessantes teorias podem ser acompanhadas nessa palestra que ele deu na edição de 2008 do TED (agora com legendas em Português! Advirto, porém, que há imagens fortes de violência.).



Nos mais de trinta anos durante os quais estudou o tema, sua pergunta básica era: o que faz as pessoas agirem de forma errada? Suas conclusões são espantosas, ainda que simples e intrigantes, porque banais.

Imagine que alguém lhe pergunte: "vamos eletrocultar alguém hoje?" Tenho certeza que a leitora responderia, meio espantada, meio indignada:  "Hummm... não, obrigada. Prefiro o chá." Mas dez anos antes de Zimbardo, Stanley Milgram provou que, uma vez colocados nas condições apropriadas, 65% dos voluntários fritariam pessoas inocentes, as quais nunca viram mais gordas.

Milgram estudou, no entanto, o poder de uma autoridade individual. Zimbardo avaliou, por sua vez, a influência de uma instituição. Trata-se, no final das contas, de um estudo sobre o poder da instituição. E a maioria de nós está dentro de uma instituição a maior parte do tempo.

domingo, 22 de abril de 2012

Renascimento I – Filosofia Natural


Com o estudo dos textos de Platão, desenvolveu-se a ideia que a Natureza era uma grande ser vivo. O homem em si, foi considerado microcosmo, podendo através de dedicação e muito conhecimento manipular os fenômenos naturais e as outras pessoas. A filosofia desta fase é caracterizada por estudos em matemática, medicina, fisiologia, farmacologia, navegação, cartografia, mineralogia, metalurgia, mecânica, cinemática, ótica a música. A astrologia e a astronomia estão vinculadas, não havendo separação entre as duas ciências. Os magos, como eram chamados os conhecedores das matérias acima eram respeitados nas vilas. Tinham perfumes, amputavam pernas, tiravam dentes, ministravam poções e chás milagrosos (pois curavam). Eram caçados pelos protestantes e pela Inquisição por praticar magia.
Renascentistas que seguiam a corrente da Filosofia Natural:
Marcilio Ficino 1433 – 1499– agregado da poderosa Família Médici em Florença, foi o responsável pela tradução para o Latim dos 18 livros da Theoria Platonica. Foi um dos fundadores da Academia Platonica, responsável pela divulgação das ideias deste filósofo.
Giordano Bruno 1548-1600 : Excomungado pela Igreja Católica e expulso pelos Calvinistas, apoiou Copérnico na teoria do heliocentrismo, não pelo sol ser o centro do universo, mas por possuir a visão cosmológica dos pré-socráticos, onde o universo é infinito. Estas ideias revolucionárias renderam um julgamento e a consequente condenação por heresia pelos tribunais da Inquisição.
Campanella 1568-1639:Giovanni Domenico Campanella ainda jovem dedicou-se aos estudos de latim e grego, traduzindo e publicando diversas obras clássicas gregas e romanas. Estas publicações levaram-no à prisão por 27 anos acusado por heresia. Solto, fugiu para França, onde foi protegido por Luís XIII e por Richelieu.Para Campanella a alma era material e o conhecimento se dava pelos sentidos. Em seus estudos encontramos bases científicas de experimentação (astrologia, medicina e química), relacionadas sobretudo às obras de Aristóteles e Demócrito.
Johannes Kepler (1571-1530): matemático, astrônomo, reformulou o telescópio refrator. Os estudos de Klepler desvincularam a astronomia da astrologia/magia, vinculando da astronomia à matemática e a física. Seus estudos tornaram-se leis fundamentais da mecânica celeste, confirmando e ampliando estudos de Copérnico e sendo base para os de Isaac Newton.

sábado, 31 de março de 2012

FILOSOFIA DA RENASCENÇA (séc. XIV, XV e XVI)


Filosofia da Renascença -  introdução

         A renascença é marcada pela agitação econômica causada pelas grandes navegações. Esta riqueza impulsionou as famílias mais nobres a investirem na educação dos filhos. Os meninos eram mandados para os mosteiros. As meninas começam a ter uma educação mais cuidada, voltada para a administração das casas e a educação dos filhos. Os ex-monásticos assumiram a vida civil ganhando o pão de cada dia como professores.
        Com esta migração profissional o conhecimento ultrapassa os muros dos monastérios. Os escritos de Platão, Aristóteles, Cícero, Tito Lívio e Tácito, passam a ser ensinados a não membros da igreja como parte de uma educação formal.
         Este período marcado por grandes aventuras que moveram a história do homem, também é marcado pela discussão da relação entre Deus e os homens. Isto se dá em três grandes correntes filosóficas: a magia natural ( a alma do mundo), teocracia vs democracia (quem manda, Deus? ou o livre arbítrio do homem?) e o homem  como dono do seu destino (dominando a magia natural e exercendo a democracia).
       A divulgação destes textos, antes restritos aos monastérios, tornam-se base para a Reforma Protestante, que tem como resposta a Contra-Reforma e o aumento do poder dos tribunais da inquisição. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Bem e o Mal: podemos sempre (re) conhecê-los? - parte II

Devemos sempre discutir a luta Bem x Mal, o link abaixo direciona para o artigo "A humilhação das colaboracionistas", por Jean-Paul Picaper, publicada pela Revista História Viva em fev/2006. O artigo mostra-nos a realidade do "gosto de sangue na boca e do brilho demente no olhar". Boa leitura.... http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_humilhacao_das_colaboracionistas.html

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Nome da Rosa - conhecendo o cotidiano medieval, compreendendo a filosofia

O filme “O nome da Rosa”, baseado no livro de Umberto Eco. A obra se desenrola na última semana de novembro de 1327 num mosteiro beneditino construído no século XIII nas montanhas italianas e tem como trama a investigação da morte de sete monges em sete dias. O título escolhido: “o nome da Rosa” era uma expressão usada na Idade Média que servia para denotar o infinito poder das palavras e este é o ponto principal da estória, pois a igreja tenta a todo custo “apagar” as palavras de Aristóteles, um filósofo extremamente conceituado pelo clero pelo fato da igreja ter assumido o sistema cosmológico do grego, que colocava que o universo era composto de duas regiões: o céu e a terra. Teoria esta que se afinava com o Gênesis bíblico. Aristóteles passou a ser figura respeitável do clero quando São Thomas de Aquino, uma expoente figura da teologia cristã inseriu no cristianismo a ciência e a filosofia de Aristóteles, passando inclusive a ser chamado por muitos do clero como “O Filósofo”, portanto, contrariar Aristóteles era o mesmo que contrariar as sagradas escrituras. Aristóteles que era até então “usado” pela igreja passa a ser um “problema” quando é descoberto o segundo volume de uma obra sua sobre a Poética que tratava da comédia. O suposto segundo volume da obra de Aristóteles pregava a natureza boa e cognitiva do riso, fato que era inaceitável para a igreja na Idade Média que ligava o riso ao diabo, e a obra sobre a comédia dizia ser o riso e a sátira remédios milagrosos. Muito interessante é o uso do exagero dos defeitos, do feio, dos vícios pelos personagens do filme, utilizando-se dos 7 pecados capitais (a gula, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, o orgulho e até a preguiça através da vida contemplativa e também sustentada dos monges). Diante deste cenário, para desvendar os assassinatos dos monges é chamado o ex-inquisidor William de Baskervile, que na estória representa a “razão filosófica” e a “ciência” e ele é apresentado como um homem de idéias e procedimentos avançados para a época, pois traz consigo dois instrumentos: o astrolábio e um quadrante. Estes instrumentos eram usados pelos mouros e eram desconhecidos pela maioria dos cristãos. Outro objeto de William de Baskervile eram suas lentes de leitura que pode nos levar a imagem do homem que procura enxergar melhor o conhecimento. William é uma figura criteriosamente escrita por Umberto Eco: é franciscano (que na época conflitavam com os beneditinos), é científico (e assim opõe-se a crença cega religiosa), é justo (e assim não pode ser peça de manipulação no jogo de interesses da igreja), porém a maior representação de William é a “razão”. Duas falas do filme que penso ser interessante citar, ambas ditas por William de Baskerville ao seu aprendiz Adson: “A única prova que vejo do demônio é o desejo de todos em vê-lo atuar” Frase que retrata a posição de que o homem prefere criar e manter um erro para manter para si a aparência de que está certo. Sintetizando: a arrogância e a hipocrisia são criações humanas e não divinas. A outra frase dita por William é: “A dúvida é inimiga da fé”. Frase que sintetiza a filosofia, pois o propósito do filósofo é o de buscar o saber e não simplesmente crer, por isso a filosofia é a arte do questionar. Para finalizar fica um questionamento: Por que Adson não ficou com a sua mulher amada? E como desfecho fica uma citação: “O coração tem razões que a razão desconhece”.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Filosofia Medieval (do século VIII ao século XIV)

Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja Romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as primeiras universidades ou escolas. E, a partir do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a Filosofia Medieval também passa a ser conhecida com o nome de ESCOLÁSTICA.
A Filosofia Medieval têm como influências principais Platão e Aristóteles. Conversando e discutindo os mesmos problemas que a patrística, a Filosofia Medieval acrescentou outros – particularmente um, conhecido com o nome de Problemas Universais – e, além de Platão e Aristóteles, sofreu uma grande influência das idéias de Santo Agostinho. Durante esse período surge propriamente a Filosofia Cristã, que é, na verdade, a teologia. Um de seus temas mais constantes são as provas da existência de Deus e da imortalidade da alma, isto é, demonstrações racionais da existência do infinito criador e do espírito humano imortal.
Os pensadores medievais mais importantes foram:
Do lado europeu: Abelardo, Duns Scoto, Escoto Erígena, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura.
Do lado árabe: Avicena, Averróis, Alfarabi e Algazáli.
Do lado judaico: Maimônides, Nehmanides, Yeudah bem Levi.

SANTO TOMÁS DE AQUINO - Nascido em uma família de nobres, Tomás de Aquino fez os primeiros estudos no castelo de Monte Cassino. Em Nápoles, para onde foi em 1239, estudou artes liberais, ingressando, em seguida, na Ordem dos Dominicanos, em 1244. A primeira questão de que se ocupa Tomás de Aquino - na Suma Teológica, sua obra máxima - é a das relações entre a ciência e a fé, a filosofia e a teologia. Fundada na revelação, a teologia é a ciência suprema, da qual a filosofia é serva ou auxiliar. À filosofia, procedendo de acordo com a razão, cabe demonstrar a existência e a natureza de Deus. Profundamente influenciado por Aristóteles, Tomás de Aquino sustenta que nada está na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos. O homem, segundo Tomás de Aquino, só pode desejar o que conhece, razão pela qual há duas espécies de apetites ou desejos: os sensíveis e os intelectuais. Os primeiros, relativos aos objetos sensíveis, produzem as paixões, cuja raiz é o amor. Quanto aos segundos, produzem a vontade, apetite da alma em relação a um bem que lhe é apresentado pela inteligência como tal.
ROGER BACON o mestre inglês Roger Bacon, franciscano, enfatizou a distinção entre a experiência interna e a experiência externa, a primeira relacionada à experiência dos sentidos, a segunda relacionada a atividades internas da mente. Trabalhou a maior parte de sua vida em línguas, matemática, em sistema ótico e em ciências. Disse que "a matemática é a porta e a chave das ciências", um pronunciamento ousado para sua época. Sua contribuição matemática mais importante foi a aplicação da geometria ao sistema ótico. Roger Bacon também se destacou pelo seu trabalho de alquimia, prática que, embora condenada pela Igreja medieval, ele exercia em segredo. Após seu trabalho ser descoberto pela Igreja, foi perseguido e preso por dez anos. Morreu pouco após sua liberdade ser concedida pela Inquisição, com oitenta anos de idade.
AVICENA -, filho de um homem de negócios, logo cedo distingui-se no domínio das ciências antes de completar os 16 anos, exercendo a prática de medicina. Suas obras sobre medicina ainda eram reimpressas no século XVII. Além de gramática, geometria, física, jurisprudência e teologia, estudou profundamente a filosofia platônica e aristotélica. Uma das suas principais descobertas foi a capilaridade, sendo que a teoria desenvolvida por ele possibilitou a movimentação de fluidos sem a necessidade de impulsão mecânica, facilitando a hidráulica e trazendo benefícios perceptíveis até hoje (a destilação de substâncias químicas, por exemplo). O seu texto filosófico mais importante é o Kitab al-Shifa, A cura da ignorância, onde aborda temas como física, matemática, geometria, aritmética, música e astronomia.
MOISÉS MAIMÔNIDES judeu foi médico, filósofo e teólogo que formulou 13 princípios da fé hebraica. O homem é livre tanto para conhecer o que quiser como para agir da forma que quiser, mas Deus através da sua providência conhece e comanda o futuro das ações humanas. Para Maimônides a alma é essencialmente única, mas tem em si cinco faculdades: A força vital; os sentidos; a imaginação; as paixões e vontades; e a razão que nos dá liberdade de compreenção. A razão é a faculdade que diferencia o homem e o faz ser o que é, as outras são compartilhadas também pelos animais.