segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Nome da Rosa - conhecendo o cotidiano medieval, compreendendo a filosofia

O filme “O nome da Rosa”, baseado no livro de Umberto Eco. A obra se desenrola na última semana de novembro de 1327 num mosteiro beneditino construído no século XIII nas montanhas italianas e tem como trama a investigação da morte de sete monges em sete dias. O título escolhido: “o nome da Rosa” era uma expressão usada na Idade Média que servia para denotar o infinito poder das palavras e este é o ponto principal da estória, pois a igreja tenta a todo custo “apagar” as palavras de Aristóteles, um filósofo extremamente conceituado pelo clero pelo fato da igreja ter assumido o sistema cosmológico do grego, que colocava que o universo era composto de duas regiões: o céu e a terra. Teoria esta que se afinava com o Gênesis bíblico. Aristóteles passou a ser figura respeitável do clero quando São Thomas de Aquino, uma expoente figura da teologia cristã inseriu no cristianismo a ciência e a filosofia de Aristóteles, passando inclusive a ser chamado por muitos do clero como “O Filósofo”, portanto, contrariar Aristóteles era o mesmo que contrariar as sagradas escrituras. Aristóteles que era até então “usado” pela igreja passa a ser um “problema” quando é descoberto o segundo volume de uma obra sua sobre a Poética que tratava da comédia. O suposto segundo volume da obra de Aristóteles pregava a natureza boa e cognitiva do riso, fato que era inaceitável para a igreja na Idade Média que ligava o riso ao diabo, e a obra sobre a comédia dizia ser o riso e a sátira remédios milagrosos. Muito interessante é o uso do exagero dos defeitos, do feio, dos vícios pelos personagens do filme, utilizando-se dos 7 pecados capitais (a gula, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, o orgulho e até a preguiça através da vida contemplativa e também sustentada dos monges). Diante deste cenário, para desvendar os assassinatos dos monges é chamado o ex-inquisidor William de Baskervile, que na estória representa a “razão filosófica” e a “ciência” e ele é apresentado como um homem de idéias e procedimentos avançados para a época, pois traz consigo dois instrumentos: o astrolábio e um quadrante. Estes instrumentos eram usados pelos mouros e eram desconhecidos pela maioria dos cristãos. Outro objeto de William de Baskervile eram suas lentes de leitura que pode nos levar a imagem do homem que procura enxergar melhor o conhecimento. William é uma figura criteriosamente escrita por Umberto Eco: é franciscano (que na época conflitavam com os beneditinos), é científico (e assim opõe-se a crença cega religiosa), é justo (e assim não pode ser peça de manipulação no jogo de interesses da igreja), porém a maior representação de William é a “razão”. Duas falas do filme que penso ser interessante citar, ambas ditas por William de Baskerville ao seu aprendiz Adson: “A única prova que vejo do demônio é o desejo de todos em vê-lo atuar” Frase que retrata a posição de que o homem prefere criar e manter um erro para manter para si a aparência de que está certo. Sintetizando: a arrogância e a hipocrisia são criações humanas e não divinas. A outra frase dita por William é: “A dúvida é inimiga da fé”. Frase que sintetiza a filosofia, pois o propósito do filósofo é o de buscar o saber e não simplesmente crer, por isso a filosofia é a arte do questionar. Para finalizar fica um questionamento: Por que Adson não ficou com a sua mulher amada? E como desfecho fica uma citação: “O coração tem razões que a razão desconhece”.

8 comentários:

  1. Achei o texto muito bom , mas eu não entendi logo no inicio quando vc diz que Aristóteles era aceito pela igreja e que após Tomas de Aquino inserir as ideias também de Aristóteles ele passou a ser questionado. Questionado o que ?o filósofo? o tipo de Filosofia? Não ficou muito claro para mim. Se vc puder me esclarecer. Atenciosamente eu agradeço.

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  2. A ideia de Aristóteles de que tudo que existe, existe primeiro no mundo das ideias.Onde a matéria é a substância individualizante, é a essência dele e a forma é a substância universalizante, o que se diz do sujeito. Mas o homem possui na forma o principio da vida, isto significa que possui alma. Isto agradou a igreja, que começava a ter que embasar os ensinamentos religiosos cientificamente. Com São Tomas de Aquino temos a Filosofia Escolástica, e a sistematização da filosofia cristã. Nesta sistematização teológica buscou-se um conceito definitivo e claro dos dogmas (trindade, encarnação do Deus-Filho, liberdade/salvação, relação entre fé e razão).Aristóteles e São Tomás não coincidem sobre a idéia do papel de Deus, como ato puro. São Tomás entende Deus como causa inicial e eficiente, isto é, fabricante do mundo. Aristóteles, gnóstico, concebe Deus como causa final, é para Deus que estrelas e planetas olham ao colocarem-se em movimento nas esferas celestes, com o fim de alcançá-lo.

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  3. queria saber o periodo retratado no filme nos aspectos cultural , politico e religioso

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    1. Oi Jonata, segue sua resposta
      POLITICA – regime feudal com os primeiros grupamentos de vilas em torno dos castelos, basicamente para oferecer serviços ao rei ou ao exercito. Não existiam propriedades particulares, todas terras eram do rei, que nomeava as famílias que iriam “cuidar de um feudo”, daí o nome feudalismo. Quatro divisões sociais: agricultores, artesãos, exercito, aristocracia.
      ECONOMIA – baseada na agricultura arcaica e pequenas feiras (funcionando no escambo ou troca). As oficinas eram pequenas e internas aos castelos, objetivo de fazer armas e alguns utensílios domésticos. Os impostos ainda pagos em cereais/produção.
      RELIGIÃO – o século XIII é de predomínio católico na Europa, missas e orações em latim. Não era permitido as mulheres o domínio da leitura. Epoca de São Francisco, Santa Clara e os primeiros questionamentos aos dogmas da igreja católica. Temos a decadência das cruzadas e o inicio dos tribunais da inquisição. (foco do filme)
      CULTURA - até o século XIII a cultura era transmitida oralmente, pelas famílias e pelos bardos (poetas e cantores) que iam de vila em vila. A escrita culta so era exercida ao redor do rei, para registros financeiros/administrativos e nos mosteiros (monges copistas). No século XIII começam os registros escritos de histórias de cavalaria (templários), mito arturiano (rei Arthur), o que coincide com a produção de papel na Europa (invenção chinesa século V).
      TECNOLOGIA – os estudos em quimica, física e biologia começam a sair dos mosteiros. Alguns monges e padres abandonam os estudos e tornam-se professores particulares. Outros dependendo do grau de aprofundamento tornaram-se cirurgiões-barbeiros (além de cortarem cabelos, faziam pequenas cirurgias, arrancavam dentes, faziam emplastros, tipóias, receitavam ervas medicinais )

      Ufa!
      Espero ter ajudado. rs

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  4. Como é que posso relacionar o filme com o tema da argumentação?
    E articular a partir do filme os conceitos de ethos, logos e pathos?

    Obrigada

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    1. Ana Rita, obrigada pelo contato.
      Preciso que especifique melhor sua primeira duvida. O tema da argumentação é o contexto do filme? Ou às argumentações realizadas pelo protagonista William (Sean Connery)?
      Ethos, Logos e Pathos estão ligados à oratória. ETHOS – o posicionamento da pessoa enquanto orador (distanciamento dos fatos ou evidencias), ouvir todos os envolvidos, formar uma opinião sobre o mesmo. LOGOS – a adaptação da mensagem ou tema ao publico a que se destina, preparando os argumentos e contra-argumentos, como num jogo de xadrez. O Logos está relacionado à retórica. PATHOS – a análise do publico e a capacidade de adaptação do LOGOS a um publico diferenciado de ultima hora, ou às variações do publico primário. É a capacidade de cativar e encantar o publico, vemos muito isso nos discursos políticos e nas pregações religiosas.

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  5. Myllena, qual sua duvida em relação ao mundo medieval? Seja mais específica em sua pergunta, por favor. Temos uma gama enorme de situações, de relações a serem analisadas, preciso saber qual o ponto exato da sua duvida.

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