terça-feira, 13 de abril de 2010

O Bem e o Mal: podemos sempre (re) conhecê-los?

O Bem e o Mal: podemos sempre (re)conhecê-los?- Lya Luft

Anjos montados em porcos

"Embora sejamos tantas vezes bons, magníficos, altruístas, generosos, capazes do belo, até do extraordinário, algo espreita em nós, pronto para o salto, a mordida, o gosto de sangue na boca e o brilho demente no olhar".

Nem é original dizer que somos feras mal domesticadas: homens e mulheres das cavernas, com um mísero verniz que a qualquer contato mais direto pode estalar, revelando dentes prontos para dilacerar carnes indefesas. O Velho, isto é, Freud, desvendou-nos, ao estudar essa estranha essência chamada alma humana, com suas paixões, sua morbidez e seus encantos, tudo brotando da sombra com flores de magia ou monstruosidade.

Nos sonhos, revelam-se algumas coisas. "Sonhos são espumas" - esse era um dos ditados ouvidos na minha infância. Naquele tempo, avós sentenciosas previam chuva, vento, morte, nascimento, com uma sabedoria feminina atávica tantas vezes confirmada que eu acabava acreditando mais nela do que em tudo que estava nos livros da biblioteca de meu erudito pai.

Espumas subindo à superfície da nossa trevosa personalidade oculta ou à flor das águas do sono. Pensei nisso lendo sobre as atrocidades cometidas pelos soldados americanos contra prisioneiros no remoto Iraque. Não hão de ser piores do que as que se cometem em prisões pelo mundo afora. Foram apenas mais noticiadas. Não hão de ser mais cruéis, ainda, do que a secreta violência exercida contra crianças, adolescentes ou mulheres em muitos lares.

A violência familiar ocupa páginas de jornais, teses de psicologia, sites de Internet. Minha alma se arrepia: quem somos no fundo, quem nos habita, que monstro é esse, muito mais antigo do que a mais antiga memória de nosso inconsciente?

Não sei. Mas sei que ele mora em todos nós. Morava em mim quando, criança de 5 ou 6 anos, eu puxava uma pobre minhoca pelas duas pontas (qual a cabeça, qual o rabo?), até ela rebentar soltando uma gosma amarelada.

Prendia um pedaço ainda vivo e trêmulo no anzol de alfinete e pescava tranqüilamente ao lado de meu pai no minúsculo lago no fundo de nossa propriedade. Por cima de nossa cabeça, o céu calmo de cidade do interior. Ao nosso lado, o pomar com aroma de flor de laranjeira. Mais acima, o roseiral de minha mãe e, mais adiante ainda, a casa com o terraço de onde eu sonhava na rede, vendo os morros azuis que rodeavam a cidade. Ali moravam os seres de contos de fadas: o unicórnio, as princesas, os anões, a Branca de Neve. Mas também Joãozinho e Maria abandonados pelo pai e pela mãe porque havia pouca comida. E assim começava o terror.

Tudo muito esquisito.

Não é preciso ser um serial killer. Pode ser o profissional que trai o amigo por ambicionar seu cargo; a mulher que calunia outra por mero ressentimento; ou simplesmente alguém querendo ver o circo pegar fogo. Embora sejamos tantas vezes bons, magníficos, altruístas, generosos, capazes do belo, até do extraordinário, algo espreita em nós, pronto para o salto, a mordida, o gosto de sangue na boca e o brilho demente no olhar. Algo que quer o sofrimento da vítima, aprecia seus gritos, tem prazer com sua humilhação: é o monstruoso que também somos. E que precisamos, a cada hora de cada dia, domesticar, controlar, sublimar.

O homem é um anjo montado num porco, disse Tomás de Aquino. O problema é que, de vez em quando, esse precário equilíbrio desanda, e aí salve-se quem puder.

Salvemo-nos.

Lya Luft é escritora Revista Veja

Edição 1854, 19 de maio de 2004.

Filosofia Clássica

FILOSOFIA CLÁSSICA

No período clássico, a filosofia vinculou-se a um momento histórico privilegiado - o da Grécia clássica. Nesse período, que compreende os séculos 5 a.C. e 4 a.C., a civilização grega conheceu seu apogeu, com o esplendor da cidade de Atenas. Essa cidade-estado dominou a Grécia com seu poderio militar e econômico. Adotando a democracia como sistema político, Atenas assistiu a um florescimento admirável das ciências e das artes. No final do século V a.C. o interesse primordial dos filósofos desviou-se do mundo natural para a compreensão do homem, do seu comportamento e de sua moral.

Foi esse período histórico que deu origem ao pensamento dos três maiores filósofos da Antigüidade: SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES.

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SÓCRATES (469-399 a.C.),

um dos maiores pensadores de todos os tempos, pretendia nada saber e dizia que todos já possuíam o conhecimento do que era correto dentro de si. Para trazer esse conhecimento à tona ele fazia perguntas bem dirigidas e questionava sistematicamente seus interlocutores afim de que a sabedoria aflorasse. A ironia socrática consiste em perguntar, fingindo desconhecer o assunto (= dúvida fictícia e metódica), com a intenção de refutar a tese contrária e preparar a tese verdadeira. A maiêutica de Sócrates conduz o interlocutor a descobrir o conhecimento sobre o objeto de discussão. Sócrates supunha haver idéias inatas, a maiêutica consistia, mais precisamente, em fazer recordar, despertando os conhecimentos virtualmente possuídos. A suprema sabedoria seria, aparentemente, o conhecimento do bem, ou pelo menos o reconhecimento honesto da própria ignorância

Sócrates desloca a reflexão filosófica da natureza para o homem e define, pela primeira vez, o universal como objeto da ciência. Dedica-se a procura metódica da verdade identificada como bem e o mal. Sócrates não deixou uma obra escrita, mas conhecemos seu pensamento através das obras de seu discípulo Platão. Este não escreveu uma obra sistemática, organizada de forma lógica e abstrata, mas sim um rico conjunto de textos em forma de diálogo, em que diferentes temas são discutidos. Os diálogos de Platão estão organizados em torno da figura central de seu mestre – Sócrates.

Fundador da ética. Sócrates sempre foi visto como um padrão do ser humano, em especial o bom cidadão. Sócrates não foi somente o bom; procurou também a ciência do ser bom, - a ética, a filosofia moral, - a partir de princípios gerais absolutos, ainda que derivando em aplicações para as particulares da natureza. É considerado mesmo o fundador da Ética como disciplina filosófica.Sócrates buscou o saber moral sistemático, não foi um radical, mas o homem racionalmente bom.

Pelo pouco que se sabe de sua vida, Sócrates, nasceu em Atenas, por volta de 470 a.C ou 469 a.C. Tendo sido filho do escultor Sofronisco e da parteira Fenareta. Desse ponto em diante nada mais se sabe ao certo sobre sua vida. Sócrates só se tornou um homem conhecido em sua época, durante sua velhice. Quando passou a mendigar pelas ruas, e a ensinar quem quisesse ouvir seus ensinamentos. Em meio a sua velhice, onde sua fama se perpetuava por toda a Atenas, havia aqueles que o consideravam um perturbador da ordem civil. Sendo assim Sócrates acabou sendo condenado por crime de calúnia. Os juízes acabam sentenciando –o à pena de morte. Antes da pena ser cumprida, lhe perguntam o que ele achava de ser condenado a morte, teria respondido: "Ó cidadãos, talvez o difícil não seja fugir da morte. Bem mais difícil é fugir da maldade, que corre mais veloz que a morte. E agora eu, preguiçoso como sou, e velho, fui apanhado pela mais lenta, enquanto os meus acusadores, válidos e lépidos, foram apanhados pela mais veloz: a maldade". Ainda mantendo o humor, Sócrates diz que se ele tem que ir para o Hades (inferno), pelo menos lá ele poderá conhecer e conversar com os ilustres homens do passado. Ele poderá conversar com Homero, Hesíodo, Orfeu, Agamêmnon, Aquiles, Menelau, Ajax, Odisseu e tantos outros heróis, reis, e grandes homens. Então, continua, se isso realmente for possível, para ele estaria tudo bem.Em 399 a.C, em uma cela de prisão na cidade de Atenas, Sócrates acompanhado de seu discípulos, era finalmente sentenciado por seus crimes, a beber veneno feito da cicuta.

As Três Peneiras de Sócrates

Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:

— Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!

— Espera — disse o sábio. Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.

— Três peneiras? Que queres dizer?

— Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?

— Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.

— A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?

Envergonhado, o homem respondeu:

— Devo confessar que não.

— A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?

— Útil? Na verdade, não.

— Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti.

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PLATÃO (429-347 a.C.),

Diversamente de Sócrates , que era filho do povo, Platão nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre família, admirador e discípulo de Sócrates, fundou a Academia de Atenas, famosa escola de Filosofia em que mestre e discípulos viviam em comum, debatendo constantemente os mais variados temas. Ao lado de idéias fundamentalmente teóricas, como a contraposição das aparências à realidade, a crença na existência de uma alma eterna e na vida após a morte, Platão discutia, de forma eminentemente prática, que a cidade ideal deveria ser governada por um rei-filósofo. . Também afirma que as idéias são o próprio conhecimento intelectual, ou seja a realidade metafísica, reforçando o mito da caverna. O conhecimento é resultado do convívio entre homens que discutem de forma livre e cordial. Platão, ao contrário de Sócrates, interessou-se vivamente pela política e pela filosofia política.

Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as obras completas. Dos 35 diálogos, porém, que correm sob o seu nome, muitos são apócrifos (não autenticos, de autoria questionável). A forma dos escritos platônicos é o diálogo, transição espontânea entre o ensinamento oral e fragmentário de Sócrates e o método estritamente didático de Aristóteles. A atividade literária de Platão abrange mais de cinqüenta anos da sua vida: desde a morte de Sócrates , até a sua morte. A parte mais importante da atividade literária de Platão é representada pelos diálogos - em três grupos principais, segundo certa ordem cronológica, lógica e formal, que representa a evolução do pensamento platônico, do socratismo ao aristotelismo . No livro "A República" de Platão, por exemplo, temos um grupo de amigos que incluem o filósofo Sócrates, dois irmãos de Platão - Glauco e Adimanto - e vários outros personagens, que serão provocados pelo mestre. O diálogo vai tratar de assuntos relacionados à organização da sociedade e à natureza da política. A palavra política vem do grego polis, que significa cidade ou Estado. Em A República, composto por IX livros, Platão idealiza uma cidade, na qual dirigentes e guardiães representam a encarnação da pura racionalidade. Neles encontra discípulos dóceis, capazes de compreender todas as renúncias que a razão lhes impõe, mesmo quando duras. O egoísmo está superado e as paixões, controladas. Os interesses pessoais se casam com os da totalidade social, e o príncipe filósofo é a tipificação perfeita do demiurgo terreno. Apesar de tudo isso e desse ideal de Bem comum, mas reconhece o caráter utópico desse projeto político, no final do livro IX.

Frases de Platão

· Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa

· Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele.

· Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.

· Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo

· Só os mortos conhecem o fim da guerra

· O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê

· A necessidade que é a mãe da invenção

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ARISTÓTELES (384-322 a.C.)

Este grande filósofo grego, filho de Nicômaco, médico de Amintas, rei da Macedônia, nasceu em Estagira, colônia grega da Trácia, no litoral setentrional do mar Egeu, em 384 a.C, foi o mais importante dos discípulos de Platão. Ao contrário de seu mestre, mais preocupado com questões transcedentais, Aristóteles acreditava que o conhecimento devia ser procurado no mundo material e real. Fundou, para isso, o Liceu de Atenas, escola em que ele e seus discípulos dedicaram suas vidas à discussão filosófica, estudo, ensino e pesquisas em larga escala, abrangendo praticamente todo o conhecimento da época. Em 343 foi convidado pelo Rei Filipe para a corte de Macedônia, como preceptor do Príncipe Alexandre, então jovem de treze anos. Aristóteles foi essencialmente um homem de cultura, de estudo, de pesquisas, de pensamento, que se foi isolando da vida prática, social e política, para se dedicar à investigação científica, sua. atividade foi vasta e intensa. A filosofia aristotélica cobre diversos campos do conhecimento, como a lógica, a retórica, a poética, a metafísica e as diversas ciências, que são classificadas em :.

I. Escritos lógicos: cujo conjunto foi denominado Órganon mais tarde, não por Aristóteles. O nome, entretanto, corresponde muito bem à intenção do autor, que considerava a lógica instrumento da ciência.

II. Escritos sobre a física: abrangendo a hodierna cosmologia e a antropologia, e pertencentes à filosofia teorética, juntamente com a metafísica.

III. Escritos metafísicos: a Metafísica famosa, em catorze livros. É uma compilação feita depois da morte de Aristóteles mediante seus apontamentos manuscritos, referentes à metafísica geral e à teologia. O nome de metafísica é devido ao lugar que ela ocupa na coleção de Andrônico, que a colocou depois da física.

IV. Escritos morais e políticos: a Ética a Nicômaco, em dez livros, provavelmente publicada por Nicômaco, seu filho, ao qual é dedicada; a Ética a Eudemo, inacabada, refazimento da ética de Aristóteles, devido a Eudemo; a Grande Ética, compêndio das duas precedentes, em especial da segunda; a Política, em oito livros, incompleta.

V. Escritos retóricos e poéticos: a Retórica, em três livros; a Poética, em dois livros, que, no seu estado atual, é apenas uma parte da obra de Aristóteles. As obras de Aristóteles as doutrinas que nos restam - manifestam um grande rigor científico, sem enfeites míticos ou poéticos, exposição e expressão breve e aguda, clara e ordenada, perfeição maravilhosa da terminologia filosófica, de que foi ele o criador.

O problema do objeto e olhar da ciência é posto em seus verdadeiros termos e resolvido, nas suas linhas gerais, pela doutrina do conceito com Sócrates.Platão dá um passo além, procurando determinar a relação entre o conceito e a realidade, mas encalha, dum lado, nas dificuldades insolúveis de um realismo exagerado; de outro, nas extravagâncias dum idealismo extremo. Aristóteles, com o seu espírito positivo e observador, retoma o mesmo problema no pé em que o pusera Platão e dá-lhe, pela teoria da abstração e da inteligência ativa, uma solução satisfatória e definitiva nos grandes lineamentos. Em torno desta questão fundamental, que entende com a metafísica, a psicologia e a lógica, se vão desenvolvendo harmoniosamente as outras partes da filosofia até constituírem em Aristóteles esta grandiosa síntese do saber universal, o mais precioso legado da civilização grega que declinava à civilização ocidental que surgia.

Frases de Aristóteles

· O homem solitário ou é uma besta ou é um deus.

· A filosofia é a ciência que leva em consideração a verdade.

· O amor é o estado em que melhor as pessoas vêem as coisas como realmente são.

· No homem virtuoso todas as coisas exteriores e interiores se harmonizam com a sua razão.

· A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las.

· O amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano à perfeição.

· Ama-se mais o que se conquistou com mais trabalho.

· Felicidade é ter o que fazer, ter algo que amar, e algo que esperar.

· A coragem é a primeira qualidade humana, pois garante todas as outras.

· Por mais reduzidas que sejam as nossas virtudes, sempre julgamos possuí-las o bastante.

· As ciências têm as raízes amargas, porém os frutos são muito doces.

· A virtude é o meio justo entre dois defeitos.


Sofistas

Sofistas

A crescente demanda por uma educação mais apurada na Grécia por volta do século V a.C. fez surgir uma classe de mestres da cultura intitulados "Sofistas". Eram mais uma classe profissional do que uma escola propriamente dita e, como tal, se espalharam pela Grécia e promoveram muita rivalidade profissional e intelectual. Essa demanda educacional era de fato devida à busca de um conhecimento genuíno, mas refletia com maior propriedade um desejo por um aprendizado espúrio que levaria ao sucesso político. Os sofistas andavam pela Grécia, de cidade em cidade, fazendo discursos, formando discípulos e participando de debates. Por seus serviços os sofistas cobravam altas taxas e foram, na verdade, os primeiros gregos a cobrarem dinheiro para transmitir seus conhecimentos. Os sofistas não eram, falando em termos técnicos, filósofos, mas ensinavam tudo aquilo que se lhes demandasse. Eram tópicos variados como retórica, política, gramática, etimologia, história, física e matemática. Logo alcançaram o status de mestres da virtude no sentido de que ensinavam as pessoas a desempenharem seus papéis dentro do Estado. PROTÁGORAS DE ABDERA, nascido em cerca de 445 a.C. é considerado como o primeiro Sofista. Outros que se destacaram foram GÓRGIAS DE LEONTINI, PRÓDICO DE CEOS E HÍPIAS DE ELIS. Onde quer que eles aparecessem, especialmente em Atenas, eram recebidos com entusiasmo e muitos se ajuntavam para ouvi-los. Até mesmo pessoas como PÉRICLES, EURÍPIDES E SÓCRATES desfrutavam de sua companhia.

A carreira mais popular na Grécia naquela época era a habilidade na política. Assim, os sofistas concentraram seus esforços no ensino da retórica. Os objetivos dos jovens políticos que eles treinavam eram o de persuadir as multidões de tudo o que quisessem que elas acreditassem. A busca da verdade não era a sua prioridade. Conseqüentemente os sofistas se empenhavam em providenciar argumentos sobre qualquer que fosse o assunto, ou ainda para provar qualquer posição. Se vangloriavam de sua habilidade de fazer com que o pior parecesse melhor, de provar que preto era branco. Alguns sofistas como Górgias garantiam que não era necessário ter nenhum conhecimento sobre um determinado assunto para dar respostas satisfatórias em respeito a ele. Portanto, Górgias respondia com ostentação a qualquer questionamento que lhe faziam sobre qualquer assunto. Para obter seus fins, utilizava de linguagem evasiva. Dessa maneira, os sofistas tentavam envolver, enredar e confundir seus oponentes e até mesmo, se isso não fosse possível, derrotá-los por mera força e violência. Buscavam também sobrepujar-se por intermédio de metáforas rebuscadas, figuras de linguagem inusitadas, epigramas e paradoxos, isto é, sendo em geral mais astutos e sagazes ao invés de sinceros e verdadeiros. Através de Platão ficamos sabendo que havia um certo preconceito sobre o título de "sofista". Na época de Aristóteles esse título sustenta um significado de insolência à medida que define "sofista" como uma pessoa que faz uso da razão de maneira falsa para obter lucros.

PROTÁGORAS nasceu em Abdera - pátria de Demócrito, cuja escola conheceu - pelo ano 480. Viajou por toda a Grécia, ensinando na sua cidade natal, na Magna Grécia, e especialmente em Atenas, onde teve grande êxito, sobretudo entre os jovens, e foi honrado e procurado por Péricles e Eurípedes. Acusado de ateísmo, teve de fugir de Atenas, onde foi processado e condenado por impiedade, e a sua obra sobre os deuses foi queimada em praça pública. Refugiou-se então na Sicília, onde morreu com setenta anos (410 a.C.), dos quais, quarenta dedicados à sua profissão. Dos princípios de Heráclito e das variações da sensação, conforme as disposições subjetivas dos órgãos, inferiu Protágoras a relatividade do conhecimento. Esta doutrina enunciou-a com a célebre fórmula: O homem é a medida de todas as coisas. Esta máxima significava mais exatamente que de cada homem individualmente considerado dependem as coisas, não na sua realidade física, mas na sua forma conhecida. Subjetivismo, relativismo e sensualismo são as notas características do seu sistema de ceticismo parcial. Platão deu o nome de Protágoras a um dos seus diálogos, e a um outro o de Górgias.

GÓRGIAS nasceu em Abdera, na Sicília, em 480-375 a.C. - correlacionado com Empédocles - representa a maior expressão prática da sofística, mediante o ensinamento da retórica; teoricamente, porém, foi um filósofo ocasional, exagerador dos artifícios da dialética eleática. Em 427 foi embaixador de sua pátria em Atenas, para pedir auxílio contra os siracusanos. Ensinou na Sicília, em Atenas, em outras cidades da Grécia, até estabelecer-se em Larissa na Tessália, onde teria morrido com 109 anos de idade. Menos profundo, porém, mais eloqüente que Protágoras, partiu dos princípios da escola eleata e concluiu também pela absoluta impossibilidade do saber. é autor da obra intitulada "Do não ser", na qual desenvolve as três teses: Nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros. A prova de cada uma destas proposições e um enredo de sofismas, sutis uns, outros pueris.

No Górgias de Platão, Górgias declara que a sua arte produz a persuasão que nos move a crer sem saber, e não a persuasão que nos instrui sobre as razões intrínsecas do objeto em questão. Em suma, é mais ou menos o que acontece com o jornalismo moderno. Para remediar este extremo individualismo, negador dos valores teoréticos e morais, Protágoras recorre à convenção estatal, social, que deveria estabelecer o que é verdadeiro e o que é o bem.

PRÓDICO foi sofista e retórico nascido na cidade jônica de Julius em Ceos. Foi contemporâneo de Demócrito e Górgias e também discípulo de Protágoras. Tornou-se conhecido Reporta-se que entre seus discípulos estão incluídos Sócrates, Eurípides, Teramenes e Isócrates. Foi sofista no sentido pleno de educador independente com seu nome sendo associado ao ensino da arte do sucesso na política e na vida privada. Em seus ensaios de estilo literário destacou o uso apropriado da palavra e a acurada discriminação dos sinônimos. é freqüentemente ironizado por Platão por sua linguagem. Platão também faz insinuações a respeito do prospecto da abertura de sua escola que levou Pródico a ganhar sua riqueza. Aristófanes, contudo, o descreve como o mais memorável filósofo naturalista pelo seu caráter e sabedoria. Na realidade, Pródico era humanista e teve uma visão notável de discernimento da estreita conexão entre a religião e a agricultura. Os únicos títulos atestados de obras de Pródico são "Sobre a natureza", "Sobre a natureza do homem" e "Horai". Sua obra mais famosa foi "A Escolha de Hércules" e era freqüentemente citada. O texto original se perdeu, mas sua substância está contida na Memorabilia de Xenofon (2:1:21). Pródico foi condenado à morte sob a acusação de corrupção da juventude ateniense. Cícero aponta algumas de suas doutrinas como subversivas a todo tipo de religião. Fala-se que Pródico explicava a origem da religião através da personificação de objetos naturais.

HÍPIAS Sofista grego de Elis e contemporâneo de Sócrates. Ensinou nas cidades da Grécia , especialmente em Atenas. Tinha a vantagem de possuir uma memória prodigiosa e era altamente versado em todos os segmentos de conhecimento de sua época. Trabalhava com toda a forma de literatura existente. Elaborou ainda sua primeira composição de diálogos. Nos dois diálogos Platônicos que receberam seu nome (Hípias Maior e Hípias Menor) é representado como excessivamente orgulhoso e arrogante.

Hípias é lembrado pelos seus esforços em relação à universalidade. Era inimigo de toda sorte de especialização e apareceu em Olímpia glamorosamente trajado com um costume desenhado por ele mesmo e combinando com seu anel. Estava sempre preparado para discursar a qualquer um sobre qualquer assunto. Desde astronomia até história antiga. Um homem assim tinha de ser dotado de uma grande memória e sabemos que ele inventou um sistema mnemônico. Apesar disso tudo, havia um lado mais sério de sua personalidade. Essa era uma época em que todos ainda eram muito otimistas em relação a quadratura do círculo. Ele inventou a curva conhecida até hoje como quadratriz que resolveria o problema mecanicamente descrito. Hípias parece ser o precursor da idéia da lei natural como fundação da moralidade, distinguindo a natureza das convenções arbitrárias ou modistas, diferenciando de acordo com os diferentes períodos e regiões onde surgiam, impostas pela arbitrariedade humana e sempre obedecida à força. Sustentava que existe um elemento de direito comum às leis de todos os países e que constitui sua base essencial. Dizia ainda que o bem e o sábio de todas as nações são elementos inatos e que deveríamos ver os cidadãos como membros de um único Estado. Essa idéia vai ser desenvolvida mais tarde pelos Cínicos e também pelos Estóicos, passando depois para os juristas em cujas mãos tornou-se um instrumento que favoreceu a conversão da lei romana em legislação de um povo.

Pré-Socráticos

DIVISÃO HISTÓRICA DA FILOSOFIA


Os Pré-Socráticos – por volta do século VI a.C na Grécia Antiga

Período Clássico IV a.C – Grécia Antiga

Período Pós-Socrático - do final do período clássico (320 a.C.) até o começo da Era Cristã,

Pensamento Medieval – teocentrismo (origem divina do conhecimento)

Pensamento Filosófico Moderno – renascimento, iluminismo, positivismo, materialismo histórico, marxismo, liberdade, controle moral e controle social

Época Contemporânea – releitura do marxismo, novos estudos em antropologia e a fenomenologia com foco no existencialismo.


Os Pré-Socráticos

Podemos afirmar que foi a primeira corrente de pensamento, surgida na Grécia Antiga por volta do século VI a.C. Os filósofos que viveram antes de Sócrates se preocupavam muito com o Universo e com os fenômenos da natureza. Buscavam explicar tudo através da razão e do conhecimento científico. Podemos citar, neste contexto, os físicos Tales de Mileto, Anaximandro e Heráclito. Pitágoras Demócrito e Leucipo defendem a formação de todas as coisas, a partir da existência dos átomos.

TALES DE MILETO foi o primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia. Ele é o marco inicial da filosofia ocidental. De ascendência fenícia, nasceu em Mileto, antiga colônia grega, na Ásia Menor, atual Turquia, por volta de 624 ou 625 a.C. e faleceu aproximadamente em 556 ou 558 a.C.Foi o fundador da Escola Jônica. Tales considerava a água como sendo a origem de todas as coisas. E seus seguidores, embora discordassem quanto à “substância primordial” (que constituía a essência do universo), concordavam com ele no que dizia respeito à existência de um “princípio único" para essa natureza primordial. A tendência do filósofo em buscar a verdade da vida na natureza o levou também a algumas experiências com magnetismo que naquele tempo só existiam como curiosa atração por objetos de ferro por um tipo de rocha meteórica achado na cidade de Magnésia, de onde o nome deriva.

ANAXIMANDRO DE MILETO (610 - 547 a.C.) foi um filósofo pré-Socrático. Discípulo de Tales. Geógrafo, matemático, astrônomo e político. Anaximandro considerava que a Terra tinha o formato de um cilindro e que era circundada por várias rodas cósmicas, imensas e cheias de fogo. O Sol era um furo, numa dessas rodas cósmicas, que deixava o fogo escapar. À medida que essa roda girava, o Sol também girava, explicando-se assim o movimento do Sol em torno da Terra. Eclipses se deviam ao bloqueio total ou parcial desse furo . A mesma explicação era dada para as fases da Lua, que também era um furo em outra roda cósmica. E finalmente, as estrelas eram pequenos furos em uma terceira roda cósmica, que se situava mais perto da Terra, do que as rodas do Sol e da Lua.

HERÁCLITO nasceu em Éfeso, cidade da Jônia (atual Turquia).. Tinha uns quarenta anos por ocasião da 69ª Olimpíada (504-501 a.C.). Era homem de sentimentos elevados, orgulhoso e cheio de desprezo pelos outros". Segundo Heráclito, o fogo é, pois, o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se origina por rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um só e nasce do fogo e, de novo, é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem pela eternidade. Para Heráclito, o fogo, quando condensado, se umidifica e, com mais consistência, torna-se água; e esta, solidificando-se, transforma-se em terra; e, a partir daí, nascem todas as coisas do mundo. Este é o caminho que Heráclito define como sendo "para baixo".
Derretendo-se a terra, obtém-se água. Água transforma-se em vapor, tal como vemos na evaporação do mar. E, rarefazendo-se, o vapor transforma-se novamente em fogo. E este é o caminho "para cima".

PITÁGORAS - da vida de Pitágoras quase nada pode ser afirmado com certeza, já que ele foi objeto de uma série de relatos tardios e fantasiosos. Parece certo, contudo, que o Filósofo e matemático grego nasceu no ano de 570 a.C. na cidade de Samos, fundou uma escola em Crotona (colônia grega na península itálica). A palavra Matemática (Mathematike, em grego) surgiu com Pitágoras, que foi o primeiro a concebê-la como um sistema de pensamento. A Escola Pitagórica foi uma entidade parcialmente secreta com centenas de alunos que compunham uma irmandade religiosa e intelectual. Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números - para eles o número (sinônimo de harmonia) era considerado como essência das coisas - é constituído então da soma de pares e ímpares, noções opostas (limitado e ilimitado) respectivamente números pares e ímpares expressando as relações que se encontram em permanente processo de mutação, criando a teoria da harmonia das esferas (o cosmos é regido por relações matemáticas)

DEMÓCRITO DE ABDERA (cerca de 460 a.C. - 370 a.C.) foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o que existe é composto por elementos indivisíveis chamados átomos (e é daí que vem a palavra átomo, que em grego significa "a", negação e "tomo", divisível. Átomo= indivisível).. Uma célebre frase de Demócrito é: "Tudo que existe no universo é fruto do acaso e da necessidade"

O que é filosofia

O que é a Filosofia?

Historicamente, o primeiro pensador grego a usar a palavra FILOSOFIA foi Pitágoras de Samos no Século VIII ac. E desde então se levantou, a maior e a mais profunda discussão de todo o pensamento humano, pois todas as demais questões ressumem-se a esta: O que é a Filosofia?

Esta afirmação se consolida quando vemos a tentativa de todos os Filósofos em conceituar a Filosofia, partindo daí para criar os seus próprios conceitos filosóficos, bem como sua visão de mundo.

Etimologicamente, a palavra Filosofia é composta de dois radicais gregos: Filo + sofia.

Filo - Amigo ou amante. Aquele que deseja e se compromete afetuosamente e incondicionalmente a outrem em atitude de amor e lealdade.

Sofia - Sabedoria = A sabedoria para o grego era algo divino, que era revelado aos mortais pelos deuses. A sabedoria não era adquirida por mérito, mas por dádiva dos deuses.

Partindo do conceito etimológico, podemos construir uma idéia sobre o que possa vir a ser a Filosofia numa perspectiva de três faces conceituais.

Filosofia é razão - O Filósofo é a razão em movimento na busca de si mesma. A Filosofia surge na Grécia Arcaica na passagem das explicações míticas-religiosas para as explicações racionais-filosóficas sobre questões inerentes ao ser e ao mundo. A idéia da Filosofia como razão consolidou-se na afirmação de Aristóteles: "O homem é um animal racional".

Filosofia é Paixão - O Filósofo antes de tudo é uma amante da sabedoria. Toda atitude humana, inicialmente é passional. O que move o mundo não é a razão, mas a paixão. "O coração tem razões que a própria razão desconhece" Pascal.

Filosofia é Mito - O Filósofo é um mítico em busca da verdade velada. Só pensamos naquilo que cremos, e só cremos naquilo que queremos. O mito para a Filosofia é vital, pois cria ícones possíveis do mundo das idéias. "Há mais mistérios entre os céus e a terra do que pressupõe a vossa vã Filosofia". William Shakespeare.

O que vem a ser um sábio?

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O que distingue o sábio é que ele tem o conhecimento das coisas mais difíceis. Entender que o fogo queima ou que a chuva molha é algo comum a qualquer um pois sentir, ter sensações, é algo universal entre os homens, mas possuir as noções mais exatas das causas últimas e ser capaz de dar conta delas, transmitindo-as pelo ensino, essa é uma virtude do homem sábio. Ele também se distingue do teólogo na medida em que o seu objetivo e atingir a verdade e não forjar um dogma (algo que não se pode discutir ou questionar).

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Os Atributos do Sábio

Para alcançar-se a ser um sábio, evidentemente que não basta ter apenas vontade de sê-lo. Aristóteles na Ética a Nicômaco estabeleceu um conjunto de pré-condições, ou de disposições naturais para assim chegar-se à filosofia, as virtudes próprias da parte intelectual da alma, que são distintas da ética e da moral, compostas pela:

1 - episteme (ciência), ser dotado para o conhecimento;

2 - praxis téchne, (uma habilidade, uma arte qualquer), uma disposição produtiva;

3 - frónesis, (a prudência, a sapiência), uma disposição verdadeira para o que é bom e o que é mau;

4 - noûs (inteligência) uma capacidade para a reflexão dialética expontânea, e por último;

5 - a sophia (a sabedoria) uma vocação para as coisas teóricas.